Poço Comprido | Comunidade Poço Comprido
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Comunidade Poço Comprido

Foto turma AFAV

Comunidade Poço Comprido

http://Comunidade Poço Comprido


*Por Joana D’Arc Ribeiro

A Comunidade Poço Comprido, localizada na região do Vale do Siriji, terras férteis da mata norte pernambucana, integra moradores do engenho Poço Comprido, Vila Murupé, cidade de Vicência e pessoas de interesse na preservação do patrimônio histórico nacional, o engenho Poço Comprido, datado do século XVIII, que desde o ano de 2004 a AFAV (assoc. dos Filhos e Amigos de Vicência) assumiu sua gestão; uma Ong que tem a missão de manter este espaço através de parcerias e captação de recursos. A AFAV tornou esse espaço um “ponto de cultura” (a partir do ano de 2008) e “museu” (cadastrado no IBRAM a partir do ano de 2006), aberto ao público para visitantes e em especial estudantes de todos níveis de ensino e de diversas regiões do pais e fora dele. Para as visitas há uma taxa de entrada que hoje é de R$10,00 por pessoa. O espaço é também alugado para eventos, utilizando as edificações da Capela de São João Batista e do Auditório Frei Caneca. A captação de recursos financeiros é primordial pois é revertido na manutenção desse espaço oitocentista, único remanescente do século XVIII no Estado de Pernambuco. Em 21 anos de existência da AFAV e 16 anos de gestão junto ao Museu Poço Comprido, as atividades são focadas no resgate da cultura local, através de formação e fomento em educação patrimonial e cultura popular. Dentre as ações de fomento, realiza-se eventos em datas específicas, como o São João de Poço Comprido e a Celebração da Consciência Negra, (evento idealizado no ano de 2008, por uma das integrantes da AFAV, Joana D’Arc Ribeiro), evento esse que acontece no mês de Novembro, e desde então é celebrado todos os anos. Para as diversas atuações a AFAV conta com a comunidade deste engenho, onde os moradores protagonizam o processo de conservação e preservação deste equipamento cultural. Nestas ações de suporte e produção das atividades realizadas e propostas, estão as mediações e receptivo que contam com jovens e adolescentes do engenho e da Vila Murupé; transmissão de saberes pelas artesãs da fibra da bananeira, de gastronomia e de sanfona de oito baixos; bem como as atividades de limpeza e manutenção num espaço de quatro hectares que abrigam estas edificações arquitetônicas (casa-grande, capela, moita e todo entorno). O receptivo conta com seis mediadoras(es) que explanam a história da “civilização do açúcar” e em especial informações sobre o engenho Poço Comprido, nestes séculos de existência e resistência, aos visitantes, de forma pré agendada. A transmissão de saberes das artesãs do engenho, utiliza a matéria prima, a “fibra e palha da bananeira”, material descartado pelos agricultores e reaproveitável, num município que detém na cultura da banana, sua segunda economia. As sementes para confecção de bijuterias são colhidas nas matas da localidade. Com as artesãs da “fibra da bananeira”, “bijuterias em sementes” e “gastronomia”, diversas oficinas já foram realizadas, numa transmissão de saberes para adolescentes, jovens, adultos e idosos. Oficinas estas que integraram as ações do Ponto de Cultura Poço Comprido e através de seleção em projetos e editais estaduais e nacionais, como MinC, FUNARTE e FUNCULTURA/Governo de Pernambuco. As primeiras ações de transmissão de saberes aconteceram junto ao Ponto de Cultura Poço Comprido – Convênio 068/2008-MinC/FUNDARPE, com oficinas de rabeca, maracatu rural, cavalo marinho, capoeira, artesanato em fibra da bananeira e mamulengo, entre os anos de 2009 a 2013. Nos anos de 2011 e 2012 a AFAV realizou o curso de produção e elaboração de projetos, pelo “Método Canavial”, com Afonso Oliveira, capacitando 24 vicencianos(as), resultando no surgimento de produtores culturais, alguns atuantes até os dias de hoje. Outra atividade de transmissão de saberes muito marcante são as aulas de “sanfona de oito baixos”, ministradas pelo Mestre Baixinho dos Oito Baixos, morador local e integrante da AFAV, já realizada pela Escola de Cultura Canavial Frei Caneca, para jovens e adolescentes, com incentivo da UNESCO/Criança Esperança e FUNCULTURA/Governo de Pernambuco em duas edições. A comunidade teve papel primordial na reabertura da escola do engenho, a qual estava fechada há 10 anos, e no ano de 2013 a AFAV e comunidade abraçaram a iniciativa, após a AFAV ter sido selecionada no ano de 2012, com o projeto “Escola Cultural Canavial”, pela UNESCO, o que impulsionou um mutirão de recuperação e manutenção daquela escola. Neste projeto foram realizadas dez oficinas durante um ano. A saber: educação patrimonial, mamulengo, rabeca, capoeira, produção cultural, artesanato da fibra da bananeira, artesanato de bordado da gola de maracatu rural, artesanato em sementes, sanfona de oito baixos e cavalo marinho. Após este primeiro ano de atividades, a escola funcionou mais três anos com oficinas de artesanato em cipó, gastronomia de engenhos de açúcar, sanfona de oito baixos e fibra da bananeira. Todas essas oficinas com incentivo do FUNCULTURA/Governo de Pernambuco. Outros cursos em parceria também foram realizados na escola, como o curso “Engenho de Imagens” de Caio Dornelas. As atividades de transmissão de saberes, ministradas por mestres, brincantes e artesãos da localidade e da região da mata norte pernambucana. Nos anos de 2015/2016, um projeto intitulado “Educação para Museus”, com patrocínio da Caixa Cultural, mais uma vez, a AFAV priorizou a transmissão de saberes em Cultura Popular (com o brinquedo Mamulengo para alunos do Ensino Fundamental II da região da Mata Norte – 1200 participantes), em Educação Patrimonial para estudantes do Nível Médio de Vicência (40 participantes) e Educação Museal – Especialização em Museus, para 50 participantes de 10 cidades da mata norte, agreste setentrional e capital Recife. De fato a transmissão de saberes é bastante recorrente nas ações da AFAV. Nestas ações de formação, as que envolve a comunidade de Poço Comprido, são as de artesanato da fibra da bananeira (Mestras Cosminha e Mazé), artesanato em sementes (Mestras Beta e Cida), sanfona de oito baixos (Mestre Baixinho dos 8 Baixos) e gastronomia dos engenhos de açúcar (Mestra Beta e Marcela). Nos anos seguintes outros projetos foram realizados por outros proponentes, produtores formados neste ponto de cultura e museu, realizados no Ponto de Cultura e Museu Poço Comprido, sendo idealizados em conjunto com a AFAV, como: “Circo no Canavial”, “Memória Poço Comprido” e “Dança Afro”, em formação; “Mostra Rural de Cinema”, em audiovisual; e “Festa de Engenho”, com apresentações artísticas em oito meses de eventos tradicionais em cultura popular; todos esse projetos em duas edições já realizadas, incentivadas pelo Funcultura. Desde o ano 2008 realiza a “Celebração da Consciência Negra“, como já mencionado. Esta celebração acontece anualmente, de acordo com as parcerias e incentivos, integra debate, formação, apresentação artística, audiovisual, gastronomia, uma ação consolidada no Estado de Pernambuco. No ano de 2017 a AFAV atuou pela primeira vez na produção local de um curta metragem, “Repulsa”, do premiado diretor Eduardo Morotó e Alexandre Taquary. Entre os anos de 2012 a 2017, três projetos de obras físicas de conservação foram realizados e imprescindíveis na preservação do monumento histórico: “Conservação do Engenho Poço Comprido”, “Passo do Poço”, e, “Passo do Poço 2 – Intervenções estruturais”, todos com incentivo do FUNCULTURA/Governo de Pernambuco. Desde a formação da AFAV, seu objetivo maior foi o de preservar este espaço. Com isso foi desencadeado atividades inclusivas, com participação direta da comunidade e promovido projetos culturais e sociais, que permitiram chegar a centenas de beneficiários, pessoas de diversas faixas etárias. Esse modelo de gestão não havia cartilha a seguir, foi sendo construído ao longo dos anos, com acertos, falhas, vitórias e fracassos; por diversas pessoas que passaram e/ou continuam na AFAV com suas respectivas ideias e experiências. Dessa forma, o Museu Poço Comprido encontra-se hoje em bom estado de conservação, é um museu vivo e dinâmico, possibilitando conhecimento e diversão para população em geral, em especial a local e regional, as mais atendidas. A partir do ano de 2017, houve uma redução brusca nos incentivos a projetos de cultura por parte do governo federal, o que reflete na dinâmica dos espaços culturais, diminuindo consideravelmente as atividades neste ponto de cultura/museu. Ao longo dos anos a AFAV recebeu alguns prêmios: FUNARTE (com a “Celebração da Consciência Negra” em 2011 e com o “Circo no Canavial” no ano de 2012); Prêmio Ponto de Memória-IBRAM em 2012; Prêmio Culturas Populares (“Escola de Cultura Frei Caneca” em 2013 e “AFAV” em 2017); Indicação pela Caixa Cultural como “Melhores práticas da Caixa Cultural com o projeto Educação para Museus” no ano de 2017; Mensão Honrosa no Prêmio de Preservação Ayrton de Almeida Carvalho no ano de 2019. A primeira ação comunitária da AFAV reunindo a comunidade do engenho, aconteceu no ano de 1999, onde foi realizado um “mutirão de limpeza” neste engenho, com o intuito de chamar a atenção do governo do estado e população em restaurar este conjunto arquitetônico, patrimônio histórico cultural, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, desde 21.05.1962, processo n° 358 -t-46, inscrição n° 468, Livro das Belas Artes, folha n° 86, e em consequência da Lei Estadual 7.970, de 1979, constitui também proteção Estadual. Neste mesmo ano foi a criação da AFAV. Este mutirão realizado pelos então formadores da AFAV e pela Prefeitura Municipal de Vicência, foi determinante e de fato divulgou o mau estado de conservação que se encontrava este equipamento. Foi matéria nos principais jornais de circulação no estado de Pernambuco e na TV Globo. Sem dúvida, o mutirão de limpeza do engenho Poço Comprido, no ano de 1999, foi a primeira ação conjunta realizada pela AFAV e a comunidade de Poço Comprido, permitindo e resultando em diversas atividades que seguem até os dias de hoje.

*Joana D’Arc Ribeiro é pesquisadora, produtora cultural,
bióloga, com Esp. em Ensino de Biologia, formada pela UPE,
está na direção do Museu Poço Comprido, Vicência, PE.

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