SEU JOÃO DE JUNDIÁ: Apontamentos históricos sobre o Engenho Jundiá.
Senhor João Correia é o atual proprietário do Engenho Jundiá em
Vicência e nele construiu sua vida intelectual e política. Neste
segundo momento Seu João de Jundiá, como é carinhosamente conhecido, discute a vida social do Engenho. Quando perguntado sobre a divisão do trabalho no engenho, Seu João destaca a importância do mestre de açúcar: “Haviam diferentes classe dentro da propriedade; o mestre de açúcar era tratado a pão de ló. Meu pai dizia que aqui tinha um mestre de açúcar de nome ‘Zé Anjo’ que no inverno ele colocava dois trabalhadores por conta dele (pai) para plantar a lavoura de Zé Anjo. Porque ele era um bom mestre de açúcar, os outros ficavam chamando.” A conversa com seu João é marcada de fatos importantes acerca do Jundiá. O Engenho como equipamento econômico desde o século XVIII foi se adequando ao longo do tempo, ele diz: “Jundiá tinha uma casa grande (sede) de morada, uma olaria para fabricação de tijolo, uma casa de farinha para fabricação da alimentação do proprietário e dos escravos e uma senzala, era o que havia de construção em jundiá em 1750; produzia-se algodão e lavoura de subsistência – algodão e fumo era lavoura comercial. Em 1817 ela foi adquirida por um cidadão chamado Antônio Bernardo de Moura, que havia enriquecido com o algodão, mas queria o status de senhor de engenho. Aqui plantou um partido de cana e construiu uma engenhoca de tração animal que começou a funcionar como produtor de açúcar em 1817. Por isso quando você entra na propriedade vê a data 1817, pois só a partir de 1817 ele virou engenho. Esse Antônio Bernardo de Moura teve uma filha, Antônia Guilhermina que casou-se com Jose Francisco Lopes de Lima, este investiu muito em Jundiá e esse engenho cresceu, produzindo mais açúcar, algodão. Foi o responsável pela construção da casa de purgar da propriedade (ainda de pé). Porém investiu tanto que ao término das melhorias, quebro! Teve que vender Jundiá, porque investiu mais que podia. O engenho teve outros proprietários. Posteriormente foi adquirido por Antônio Ribeiro de Moura – Proprietário de Teitanduba – e em 1879 vendeu ao meu avô. A partir daí começou a fazer outras melhorias: Plantou cana, fez outra casa (sede), botou máquina a vapor e Jundiá começou a ter mais importância. Meu avô e meu pai transformaram esta propriedade. Era um engenho de pecuária de gado zebu, importado do sul do estado, do triângulo mineiro, vinha de navio a vapor e depois através da linha férrea. Meu avô ganhou bastante dinheiro, era trabalhador, dinâmico, tinha muitos irmãos, vendeu a parte que tinha em Cana Brava (outra sesmaria) e com esse dinheiro que comprou Jundiá. Veja só de 1750 até 1879 houveram 10 proprietários; de 1879 pra cá tá no terceiro dono. Porque quando veio não houve mais problemas de ter que vender, porque havia sérios conflitos com os que os que adquiriam jundiá com o Cel. Estelita de Canavieiras. Só que quando meu avô comprou Jundiá o primo legítimo dele, João Alfredo era ministro do Império e o outro primo dele, filho dele Zé Correia, de Pedregulhos, Joaquim José de Oliveira Andrade – esse não tinha o Correia -, era governador de Pernambuco então meu avô pode comprar isso aqui e ficou sossegado. Chamou o Cel. Estelita, demarcou tudo, regulamentou os limites. Depois meu pai comprou Teitanduba.”
Engenho. Diante de tantos dados Seu João de Jundiá diz que o
engenho não teve tanta expressão na região. Ele fala sobre aspectos
políticos onde aborda “O engenho tabatinga, foi de uma importância
com o Cel Joaquim Gonçalves Guerra que foi um dos comandantes da Revolução Praieira; Independência, de Joaquim Dias Borba cujo foi revolucionário, foi preso em Goiana; Poço Comprido com o Francisco Cavalcanti; Laranjeiras, Barra e Canavieira e mais anterior, Terra Nova. Meu avô consolidou o engenho. Ele quem transformou o engenho pujante […] mas quem deu nome a Jundiá foi Manoel, Manoel Correia, porque Manoel era muito bairrista, tendo viajado à Europa mas não esquecia das origens, sempre dizia pra mim que ‘jundiá era pra si um estado de espírito’, herdamos isto do meu pai.” Durante a conversa reforçou bastante a importância dos ciclos econômicos e a construção do nome da família frente aos interesses econômicos desde o século XIX. Mostrando uma tipologia bastante comum da vida rural, àquela época o café também era economia presente. Lembramos que Senhor de Engenho era um título de nobreza, uma fidalguia como comparava Antonil. Seu João comenta: “Só havia quatro engenhos de açúcar, os plantadores de algodão haviam enricado e para ter o título começaram implantar engenhos nessas fazenda, algodão e café. Houve um incremento muito grande do café na região decorrente da topografia, eu quando cheguei aqui em 1959 ainda tinha café, mamãe só tomava café daqui. Acabou porque o governo pagava pouco pra arrancar o café.”
Outros aspectos dessa conversa na terceira postagem ainda sobre o Engenho Jundiá e suas curiosidades.
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