Poço Comprido | SUBSÍDIOS PARA HISTÓRIA DE VICÊNCIA
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SUBSÍDIOS PARA HISTÓRIA DE VICÊNCIA

Vista para a Igreja de Santa Ana nos idos de 1930 e defronte a mesma uma obra pública municipal. Acervo: APEJE/ PE

SUBSÍDIOS PARA HISTÓRIA DE VICÊNCIA

Vista para a Igreja de Santa Ana nos idos de 1930 e defronte a mesma uma obra pública municipal. Acervo: APEJE/ PE

Vista para a Igreja de Santa Ana nos idos de 1930 e defronte a mesma uma obra pública municipal. Acervo: APEJE/ PE

Tapuias e Tabajaras dominaram a região antes da invasão europeia durante a modernidade. A provocativa para iniciar este artigo falando sobre os nativos decorre de muitas veze a narrativa partir didaticamente da povoação com a presença portuguesa como marco civilizatório, reiteramos, porém que antes disto viveram no Vale do Siriji grupos étnicos que são primordiais para o entendimento da multiplicidade de culturas e comportamento nas localidades que terão posteriormente seu desenvolvimento pautada nos mecanismos da colonização. A dominação colonial na região de Vicência dar-se-á no final do século XVII quando as sesmarias de Canavieiras, Laranjeiras e Poço Comprido foram doadas pelo governo de Itamaracá embora instável demandavam ainda algumas ordens; doações que eram de caráter administrativo para “povoar”, foram porém conhecidos, Diogo Dias e André Vidal de Negreiros os responsáveis pelas doações nestas paragens. Na estrutura política e administrativa incentivada por Portugal, essa região pertenceu a capitania de Itamaracá inserindo-se a Pernambuco apenas no século XVIII; As invasões foram retardadas por falta de um poder central que pudesse otimizar a prática colonial nas regiões do Tracunhaém, Siriji e Capibaribe-mirim. Apenas a extração do pau-brasil atraia o explorador na perspectiva de constituir capital na venda da madeira que tinha uma cotação econômica interessante no contexto das grandes navegações.

 

A história de Vicência, longe de aqui construir um enredo completo sobre a região e colocar um ponto final nesta abordagem, pois muito ainda há de vir ao conhecimento de todos, está estritamente ligada a dinâmica comercial promovida pela invasão portuguesa, mas destaca-se a identidade tupi-guarani muito forte na região e na localidade. Entre o período de 1680 e 1850 a região passou por diversos controles provenientes de outros poderes locais. Mesmo tendo engenhos, o lugar Vicência ainda sequer configurava povoação, pois os arruados e a disposição urbana ainda não se configuravam. Em contrapartida a indústria açucareira [que não era monocultora] já assentava diversas propriedades, seja para moer, seja para servir apenas de território para o plantio. Todavia nega-se a monocultura açucareira devido a quantidade de produtos cultivados na região e que tiveram tanto destaque quanto a cana pela sua importância e praticidade no objetivo do lucro, o próprio Manoel Correia de Andrade ratifica esta informação. Entre 1713 e 1790 o que compreende Vicência hoje vai estar sob os governos de Limoeiro, da Freguesia de Tracunhaém – muito importante no período -, da Freguesia de Santana do Bom Jardim e também Goiana. Neste pequeno período diversos engenhos de açúcar e farinha, bem como técnicas para melhorar o descaroçamento do algodão vão ser incentivadas na região colaborando para o aparecimento de almocreves e outros mercadores. Salienta-se, porém que em regiões mais distantes de centros colonizados, a comunidade nativa não se fez apagada. Relatos de familiares destacam sempre a configuração familiar a partir de mulheres que eram raptadas de suas moradas para viverem – forçadas a viver – com esses exploradores e/ou caçadores, e muitas mulheres são identificadas como “índias”. Acrescenta-se neste contexto a presença muito forte também da Igreja, pois diversos engenhos tinham um pedaço de terra doada à Igreja para materializar a sua fé, mesmo que não fosse tão forte assim, podendo servir apenas para maquiar suas práticas religiosas, desse modo driblando toda ou qualquer perseguição que pudesse vir do tribunal de consciência e ordens. Entre 1790 e 1830 a região ganhou maior destaque pela condição econômica vigente. Para cá a mão de obra escrava era lucrativa, uma região que desde o século XVII recebe africanos escravizados, ou vindos também na tentativa de fuga das condições de trabalho que lhes forçaram a exercer formando núcleos de povoamento africanos; vindos da região do Benin, Angola, Congo, diversas nações também se misturaram aqui; como aconteceu com os nativos os homens e mulheres que vieram das Áfricas tiveram sua influência tosada pelo etnocentrismo. Ente as décadas de 1810 e 1830 diversos movimentos liberais explodiram no novo Reino e depois Império, pois a centralização do poder na mão do monarca já não configurava mais um modelo que fosse conivente com a nova era – movimento inclusive influenciado pela Revolução Francesa em 1789 -, para isso diversas organizações inclusive a maçonaria promoveram discussões para propagar os ideais republicanos. Esses ideais também chegaram onde será Vicência; O Convento de São Joaquim ou recrutamento de moças, como Frei Caneca observou e Poço Comprido, serão espaços de debate sobre essas repúblicas proclamadas abaixo do equador. Poço Comprido foi o engenho onde o Frei maçom e liberal Joaquim do Amor Divino Caneca (da família Rabelo) organizou em novembro de 1824, uma reunião constituinte para reacender o movimento, mas sem sucesso, porque em janeiro de 1825 ele foi morto pelas tropas. Em 1848, na Praieira, Joaquim Gonçalves Guerra do Engenho Tabatinga esteve liderando as tropas de Nazareth, como tentativa de rebelar-se contrários ao governo.

 

Onde está Vicência hoje, segundo o geógrafo e historiador Manoel Correia de Andrade, era uma sesmaria, que desmembrada de Poço Comprido e Canavieiras formaram um território bastante importante, de onde se originará outras propriedades como Jundiá. O seu nome, porém, ainda causa especulação, trata-se de uma viúva abastada e dona de uma propriedade policultora, que também havia construído uma estalagem para que os almocreves pudessem fazer um intervalo antes das idas e vindas de acordo a dinâmica que o comércio lhes proporcionava. Vicência Barbosa de Melo, segundo Sebastião Galvão, era o nome da proprietária onde a povoação havia se constituem 1852. Em 1859 as missões dos capuchinhos foram fortes em toda a região e Fr. Caetano de Messina estando na Freguesia de Santana da Vicência aumentará a capela numa ampla reforma. Anterior a isto a vida eclesiástica estava ligada a Freguesia de Laranjeiras, na Capela de São Joaquim, construída por padres que tomaram posse da região no projeto colonial no século XVII. A vida religiosa antes de Sant’Ana era lá, o pouco incentivo do poder local dirimiu a comunidade tornando-a esquecida. No mais a discussão sobre a Vicência Barbosa de Melo, segundo Galvão diz que ela havia doado 40 braças em quadro que ficava agora sob os domínios da Santa. A partir da ampliação da capela e melhoramento da localidade onde se instala a Freguesia de Santana da Vicência a povoação começa a crescer, pois as décadas entre 1840 e 1880 serão de completa ascensão da região: Haverá o declínio de Laranjeiras em detrimento a Nazaré; haverá o desmembramento da freguesia das terras da de Tracunhaém (1879), originando Angélicas e Vicência; O momento coincide com a segunda Revolução Industrial onde as máquinas a vapor começarão a dominar a cena alterando os engenhos banguês; Acresce-se a isto o governo de Pedro II e as novas configurações econômicas e o novo projeto de nação, ao qual Vicência enquanto localidade não passará despercebida. Haverá toda uma influência do período. A quantidade de Engenhos aumentará destacando-a no Vale do Siriji e formando uma burguesia açucareira, mesmo não sendo de berço, mas de importância para que, na década de 1890 haja solicitação através do pacto do governo provisório estadual para criação do município. Certamente o período mais importante para Vicência serão esses quarenta anos que demarcam fatos administrativos importantes. O texto de Sebastião Galvão nos traz dados interessantes, inclusive sobre o cemitério, que passou a existir após a chegada dos missionários capuchinho, notadamente a importância de Caetano de Messina para o melhoramento da Igreja. Mesmo havendo a elevação de Vicência a Vila em 1891 e instalada naquele mesmo ano, após a constituição do estado o documento tornou sem efeito e a vila foi subjugada a comarca de Nazareth. O argumento foi a insuficiência econômica para manter-se autônoma. Contudo será pela lei estadual 1931 de 11 de setembro de 1928 que Vicência terá sua emancipação reconhecida. Neste mesmo período diversas outras cidades de pernambuco também estarão sendo elevadas a categorias de cidade. Em Vicência os distritos que outrora foram engenhos terão papeis importantes. Murupé, que inicialmente chamava-se Sapé – apenas em 1943, por uma lei que proibia duas cidades com nome idêntico, Sapé mudará seu nome -, era bastante concorrido no século XX por estar em crescente desenvolvimento econômico. Angélicas por exemplo que terá destaque no século XIX; Trigueiros que terá duas máquinas de descaroçar algodão será mais tarde reconhecida como quilombo; Buenos Aires que ainda esteve sob a circunscrição de Vicência mas depois passou a figurar sob o domínio de Nazaré tinha sua capela de N. S. do Bom Conselho gerando lucros a de Vicência e outras povoações como Tenda, Usina Barra, Laranjeiras e Borracha que ajudam economicamente a sede, mas que no passado estiveram ativamente contribuindo com o crescimento do lugar estando inseridos no contexto social do lugar.

 

A vida cultural de Vicência também era recheada, levando em consideração que em casa engenho havia um entreposto comercial e nestes, os barracões eram lugar de compra mas também diversão, cirandeiros, presepeiros e brincantes de todas as influências como o Cavalo Marinho e o Coco se apresentavam. Estas manifestações moldaram a vida do homem e da mulher do campo, nelas encontravam meios e modos de expressar sua arte. Logo apetrechos de trabalho se tornaram elementos para as atividades lúdicas que cada brincante pretendesse expressar.

Este texto tem como objetivo provocar o leitor e estudante ou até não estudante, de mostra a história do lugar a fim de criar nesses munícipes o entendimento de sua história, a história enquanto patrimônio.

Alguns títulos Consultados

ANDRADE, Manoel Correia de. O Vale do Siriji. Recife, 1957.
_______, Engenho Jundiá: Um engenho no Vale do Siriji. In Revista de História, n. 100. USP, 1978.

EISENBERG, Peter L. Modernização sem Mudança. São Paulo: Paz e Terra/ Unicamp, 1977

GALVÃO, Sebastião de Vasconcelos. Dicionário Corográfico, histórico e estatístico de Pernambuco. Org. Leonardo Dantas. 2. ed – Recife: CEPE, 2006.
GOMES, Geraldo. Engenho e Arquitetura. Massangana. Recife, 2006.

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